Velhice é quando se
Aquilo que sempre quis ter
Sem esquecer que pra tal
É preciso quase-morrer
É preciso chorar escondido
É preciso um sofá confortável
E também uma boa campanha
De uma vida de sorrisos amargos
E de luz no fim da estrada
É preciso uma fila no banco
É preciso um penico no quarto
E também um colchão duro
De forma que se durma bem
E se se esquecer do café, repetir
É preciso a tal paciência
É preciso a tal solidão
E também enterrar os amigos
De tudo restar o bom-senso
E se o tempo arruinar, remédio
É preciso um pijama de seda
É preciso uma estante de livros
E se o sim perder o sentido, de juízo
De uma padaria por perto
E se o sol esquentar um bom banho
É preciso cuidado ao andar
É preciso um barbeiro confiável
E para vontade de amar, remédio
De almoço uma boa salada
E de água a todo instante
É preciso cuidar do tempero
É preciso olhar para frente
E quando o viver cansar, paciência
De sossego precisa-se sempre
E de música nem tanto
É preciso tomar chá sem doce
É preciso escovar os dentes
E quando o apetite faltar, remédio
De uma ida ao teatro é preciso
E de pagar meia-entrada nem tanto
É preciso ainda verdade
É preciso escolher bem as flores
E muito do mundo guardar
De um sono sofrido ou um pranto
E se a luz se apagar, paciência
É preciso o dia da morte
É preciso sair no jornal
E de vazias palavras breves
De viver nada se leva
E se deixa a despesa da festa
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