A lebre, o crime, o jogo.

31 de mar. de 2010
Solto e leve feito um animal solto e leve.
Uma lebre selvagem com os olhos vermelhos.
Voa, voa lebre assassina, vá buscar a sua presa,
Na cama, na mesa com Thereza.
Os dias, os meses, os anos.
São tristes, muito tristes, quase morte.
Por pouco, muito pouco, faltou sorte.
E antes de morrer, acusou:
Seu irmão.
Grave crime.
Autópsia.
Escritos.
Pés.
Lâmpadas.
Sussurros.
E o morto:
Estático feito nuvem,
Passou voando.
Eis que: grande espanto do público.
Era inacreditável.
Extraordinário.
- Pânico.
Explosões.
Eis um fim para o crime
Que sem culpados condenados
Permanece imóvel, feito nuvem.

Anomia.

28 de mar. de 2010
E ao toque surdo dos dedos,
O espelho(denso) quebrou-se.
Ficaram os pedaços caídos...
Que passaram a refletir cem vezes:
A face do criminoso.

A parte interessante mora antes da fala.

23 de mar. de 2010
E por mais inquietante que fosse
E por mais palavras que dissessem
E por mais que confabulassem
O que os fazia amigos
Era o silêncio

Future

22 de mar. de 2010
O futuro é: distante
O futuro é: suave
O futuro é: doído
O futuro é: civilizado
O futuro é: ar-condicionado
Interno.

Em, com, chave.

Agarro o seu seio
E me ponho entre
A colcha e o colchão
Você me descobre
Levanta o lençol
Me joga no chão.

Eu grito de espanto
Sem esperar tanto
Me deito no canto...

E você me inspira
Eu te respiro,
Aí sim você pira
Devagar... põe a mão
Deixa roxa a minha coxa
Num refluxo de suspiros
Da minha, faz-se a sua
Respiração

Pernas.

Pernas, são elas
As donas da corrida armamentista.
Pernas, sempre elas
Carentes de um ismo
Afogadas nuas num abismo de saias.
Viva o pernismo!
Que nunca caia.
O pernismo nunca
Mas que caia a saia!
Se descobertas as pernas
Ficarão livres da ilusão
Da calça?

Mãos sobre a mesa.

15 de mar. de 2010
O tato indica
A farpa solta
A dor vem fácil
Uma pontada
Ligeiramente fraca.
Vejo meus dedos
Todos perfeitos
Na imperfeição que é
Ter dedo.
Lembro calado,
São minhas falhas;
Minhas fendas:
Superficiais.
A morte no início
Começa pelas mãos?

Imoralidade

Quando
Ao apagar o quadro
Ela mostra a axila
Seus dedos do pé
Tremem
No alto do salto
O corpo vacila

Conservo na sanidade
Meu olhar de monstro
Meio Bruxa Má
Meio Godzilla
Mordo forte o lábio
Sinto um gosto amargo
E o vibrar intenso da pupila

Simplicidade?

Retornar ao quarto,
Depois do café.
Enganar o sol
- Se esconder do ar.
Inspirar as gotas
Do suor sozinho.
É pequeno o destino,
(Se eu controlo tudo)
Encolher os amigos,
Romper uma tarde
E dormir.
Há um marco?
Um espaço único?
Que o ser se encontre?
Sozinho?
Ensimesmado?
Interrompido?

O caos que rasteja.

7 de mar. de 2010


Todo ser que sobre a terra rasteja, do caos é filho, ao caos pertence.
Toda dádiva que à mesa se apresenta, é servida crua, ao paladar agrada.
Toda dor recolhida na alma, machuca os ossos, e nunca cala.

É isso. É.

A vida é isso, Úrsula:
Eterna dicotomia,
Emaranhado sinestésico de acasos,
Polvorosa de futilidade e suor.
É câmera que desdobra a figura humana,
Lente que aumenta a maudade da criança.
É pedaço pouco de matéria morta.
Soluço que vagueia nas horas...
A vida é, Úrsula:
Continuidade sabor creme dos deuses.
É selva, pedra e tambor;
É quarto, árvore e teto;
É falta de onde ir;
De onde estar;
De onde ser.

A moral, as criancinhas e o pequi.

5 de mar. de 2010
O comportamento dito "moralmente aceito" é tema de divergência, luta armada (!), pré-conceito, conceito. Existe consenso? Claro. A sociedade em parte é isso, consenso moral. As criancinhas discordam - não faz mal, elas servem pra isso. Um exemplo central da moral? Sempre elas, as vestimentas (?); use-as ou deixe-as. Use-as sempre e deixe-as para serem lavadas. A sujeira incomoda o papa, não se esqueça. A moral do papa não é a moral criada pelo papa. A moral do papa é a moral com a qual o papa convive, concorda. O papa aqui não manda nada. Tudo bem, ele é chefe da igreja, comanda a instituição mais controladora da terra depois da pornografia. Então, suponhamos que participe indiretamente da moral dos outros, que é a sua, por fazer parte "dos outros". E o pequi? Fruta amarela. Impõe sua moral nas ruas. Colore as lixeiras. Empresta seu odor às massas (Grande frase!). Diverte os lábios, ativa a memória e tem espinhos. Essa parte dos espinhos entra no processo moral. A moral nata do pequi. Oferece seu sabor e impede-nos de mordê-lo. Barra o pressuposto da fome que "exige a destruição do apreciado" na metade. Moral também é isso. Fruta de moral, o pequi. A cor da moral: o amarelo. O comunismo é vermelho, a São Paulo é cinza, a paz é branca, o passado é negro, o céu é azul e a moral é amarela. Alguém discorda?

Abstraia e aleluia!

Arrume tudo!
Guarde nos armários.
Não é pecado, ponha a cruz na gaveta.
Olhe pro teto, tampe as rachaduras.
Não deixe a história te confundir...
Assim se fez o universo, arranjou-se.
Pense menos na sujeira, a poeira é seu início, lembra?
Tape os bueiros, a água arranjará suas galerias sozinha.
Faça um voto à castidade dos sonhos, conserve-os puros.
Tranquem na geladeira os filhos, antes eles não existissem.
Que alívio a solidão assistida por si mesmo.
Abstraia, e te observe do alto.
"Espectador da própria existência”

Recesso

No tropeço que eu dei
Durante esse processo
De quase cair,
Entrei em recesso.
Pensei no chão perto
E ainda, na vida
Não tinha resposta, era isso!
A pergunta bateu na cabeça!
Eu poderia ter saltado a pedra.
Mudado de rumo, virado e saído.
Voltado calado e dormido.
Ah!, eu prefiro o tropeço,
Ao tédio.