Olá.

26 de ago. de 2010
O espaço entre o suspiro
E o suspiro que virá

Borboletas no estômago?
Ou azia de matar?

As lentes de perna pro alto
Um cigarro e um olá.

O sossego é quando a falta
Deixa de incomodar.

O silêncio e a burrice
Se encontram no sofá.

Basta acender a lenha
E:
- Soprar a fumaça pra lá.

Olhar o sol que ilumina
O capô do carro do Osmar.

O sorriso do menino
Que cansou de esperar.

O espaço entre o espirro
E o espirro que virá.

Remédios, a bela.

20 de abr. de 2010
Minha doença sem cura.
Eu aceito que eu sou: por saber que não tem cura.
Não posso me curar de mim.
Adoeço porque sou. Sou eu.
Meu eu que ultrapassa seu "si mesmo".
Eu sou e sou o que sou.
Meu único antídoto é a morte.

Tetra Chave

Pela fresta:
Seu pé,
Suas pernas,
Sua testa.

Quem tem pé se cansa.

Solto o pé na quietude que têm o ar a três metros do chão.
Com o outro pé apoiado, levita um dos pés.
O outro espera.
Pé é isso: aguardar. Ter pé é poder esperar, arduamente, de pé.
Quem te pé se cansa.
Um pé a mais faz tanta diferença. À força de anomalias existe alguém com três pés. Eu não preciso ter visto pra saber. È extraordinário, mas não é isso. Um pé a mais faz tanta diferença. Na porta da porta eu recuo. Um pé a mais e eu entrava. Um pé a menos (?) e fico.
Ter pé é ter sobriedade, eu piso no chão e o chão faz parte de mim. Eu fecho os olhos e sinto o chão no pé. Sinto o chão no pé e sei que existe o chão e o pé.
"- Meu pé, meu querido pé". E sorrisos com um pé no ar.
Não.
Meu pé são dois.
Ter pé é ver o caminho por outro ângulo. De pé: noventa graus. Quem tem pé tem rumo. Quem têm mãos tem Deus.

Cada vez mais e cada vez mais.

12 de abr. de 2010
De dentro do não-sei-onde
Dormindo um sono de eras
Ela acorda em ronco-ronco
E localiza dentro do "Eu"
A existência do não-sou
Anuncia o (des)existe
No som calado do dentro
De repente, assombrado
O fígado palpita a bílis
E a boca cospe o acaso

A lebre, o crime, o jogo.

31 de mar. de 2010
Solto e leve feito um animal solto e leve.
Uma lebre selvagem com os olhos vermelhos.
Voa, voa lebre assassina, vá buscar a sua presa,
Na cama, na mesa com Thereza.
Os dias, os meses, os anos.
São tristes, muito tristes, quase morte.
Por pouco, muito pouco, faltou sorte.
E antes de morrer, acusou:
Seu irmão.
Grave crime.
Autópsia.
Escritos.
Pés.
Lâmpadas.
Sussurros.
E o morto:
Estático feito nuvem,
Passou voando.
Eis que: grande espanto do público.
Era inacreditável.
Extraordinário.
- Pânico.
Explosões.
Eis um fim para o crime
Que sem culpados condenados
Permanece imóvel, feito nuvem.

Anomia.

28 de mar. de 2010
E ao toque surdo dos dedos,
O espelho(denso) quebrou-se.
Ficaram os pedaços caídos...
Que passaram a refletir cem vezes:
A face do criminoso.

A parte interessante mora antes da fala.

23 de mar. de 2010
E por mais inquietante que fosse
E por mais palavras que dissessem
E por mais que confabulassem
O que os fazia amigos
Era o silêncio

Future

22 de mar. de 2010
O futuro é: distante
O futuro é: suave
O futuro é: doído
O futuro é: civilizado
O futuro é: ar-condicionado
Interno.

Em, com, chave.

Agarro o seu seio
E me ponho entre
A colcha e o colchão
Você me descobre
Levanta o lençol
Me joga no chão.

Eu grito de espanto
Sem esperar tanto
Me deito no canto...

E você me inspira
Eu te respiro,
Aí sim você pira
Devagar... põe a mão
Deixa roxa a minha coxa
Num refluxo de suspiros
Da minha, faz-se a sua
Respiração

Pernas.

Pernas, são elas
As donas da corrida armamentista.
Pernas, sempre elas
Carentes de um ismo
Afogadas nuas num abismo de saias.
Viva o pernismo!
Que nunca caia.
O pernismo nunca
Mas que caia a saia!
Se descobertas as pernas
Ficarão livres da ilusão
Da calça?

Mãos sobre a mesa.

15 de mar. de 2010
O tato indica
A farpa solta
A dor vem fácil
Uma pontada
Ligeiramente fraca.
Vejo meus dedos
Todos perfeitos
Na imperfeição que é
Ter dedo.
Lembro calado,
São minhas falhas;
Minhas fendas:
Superficiais.
A morte no início
Começa pelas mãos?

Imoralidade

Quando
Ao apagar o quadro
Ela mostra a axila
Seus dedos do pé
Tremem
No alto do salto
O corpo vacila

Conservo na sanidade
Meu olhar de monstro
Meio Bruxa Má
Meio Godzilla
Mordo forte o lábio
Sinto um gosto amargo
E o vibrar intenso da pupila

Simplicidade?

Retornar ao quarto,
Depois do café.
Enganar o sol
- Se esconder do ar.
Inspirar as gotas
Do suor sozinho.
É pequeno o destino,
(Se eu controlo tudo)
Encolher os amigos,
Romper uma tarde
E dormir.
Há um marco?
Um espaço único?
Que o ser se encontre?
Sozinho?
Ensimesmado?
Interrompido?

O caos que rasteja.

7 de mar. de 2010


Todo ser que sobre a terra rasteja, do caos é filho, ao caos pertence.
Toda dádiva que à mesa se apresenta, é servida crua, ao paladar agrada.
Toda dor recolhida na alma, machuca os ossos, e nunca cala.

É isso. É.

A vida é isso, Úrsula:
Eterna dicotomia,
Emaranhado sinestésico de acasos,
Polvorosa de futilidade e suor.
É câmera que desdobra a figura humana,
Lente que aumenta a maudade da criança.
É pedaço pouco de matéria morta.
Soluço que vagueia nas horas...
A vida é, Úrsula:
Continuidade sabor creme dos deuses.
É selva, pedra e tambor;
É quarto, árvore e teto;
É falta de onde ir;
De onde estar;
De onde ser.

A moral, as criancinhas e o pequi.

5 de mar. de 2010
O comportamento dito "moralmente aceito" é tema de divergência, luta armada (!), pré-conceito, conceito. Existe consenso? Claro. A sociedade em parte é isso, consenso moral. As criancinhas discordam - não faz mal, elas servem pra isso. Um exemplo central da moral? Sempre elas, as vestimentas (?); use-as ou deixe-as. Use-as sempre e deixe-as para serem lavadas. A sujeira incomoda o papa, não se esqueça. A moral do papa não é a moral criada pelo papa. A moral do papa é a moral com a qual o papa convive, concorda. O papa aqui não manda nada. Tudo bem, ele é chefe da igreja, comanda a instituição mais controladora da terra depois da pornografia. Então, suponhamos que participe indiretamente da moral dos outros, que é a sua, por fazer parte "dos outros". E o pequi? Fruta amarela. Impõe sua moral nas ruas. Colore as lixeiras. Empresta seu odor às massas (Grande frase!). Diverte os lábios, ativa a memória e tem espinhos. Essa parte dos espinhos entra no processo moral. A moral nata do pequi. Oferece seu sabor e impede-nos de mordê-lo. Barra o pressuposto da fome que "exige a destruição do apreciado" na metade. Moral também é isso. Fruta de moral, o pequi. A cor da moral: o amarelo. O comunismo é vermelho, a São Paulo é cinza, a paz é branca, o passado é negro, o céu é azul e a moral é amarela. Alguém discorda?

Abstraia e aleluia!

Arrume tudo!
Guarde nos armários.
Não é pecado, ponha a cruz na gaveta.
Olhe pro teto, tampe as rachaduras.
Não deixe a história te confundir...
Assim se fez o universo, arranjou-se.
Pense menos na sujeira, a poeira é seu início, lembra?
Tape os bueiros, a água arranjará suas galerias sozinha.
Faça um voto à castidade dos sonhos, conserve-os puros.
Tranquem na geladeira os filhos, antes eles não existissem.
Que alívio a solidão assistida por si mesmo.
Abstraia, e te observe do alto.
"Espectador da própria existência”

Recesso

No tropeço que eu dei
Durante esse processo
De quase cair,
Entrei em recesso.
Pensei no chão perto
E ainda, na vida
Não tinha resposta, era isso!
A pergunta bateu na cabeça!
Eu poderia ter saltado a pedra.
Mudado de rumo, virado e saído.
Voltado calado e dormido.
Ah!, eu prefiro o tropeço,
Ao tédio.

Tragédia

23 de fev. de 2010
Uma carabina, duas balas.
Possibilidades infinitas.

Amor perfeito e risos.

Escondo todo o desprezo que sinto
E traço a certeza do amor perfeito
Sem pontos, vírgulas, defeitos
É raro, mas é possível.

Inspiro e prendo o ar
Deixo encher o peito
Apontam os mamilos:
É o mais perto que chego.

Fecho bem o olho esquerdo
Escondo com a mão o direito
Os dois lados escuros:
É amor com respeito.

Deixo um bilhete curto
No piso sujo do quarto
Espero que ela ache
E me ame.

Um, um.

Reflete a falta do que fazer: poema.
Reduz qualquer luz quadrada.
Janela, quadro, mesa, cabeça...

Prece.

Quem dera ao triste fim de um garoto.
Sofrido, machucado, em canto escuro,
Ah! Ouvir um som de rato do esgoto,
Tocando um tambor bem vagabundo.
É pouco, eu sei, é muito pouco.
É nada, é som de bicho, é som imundo,
Sou louco, eu sei que sofro, eu sei que tudo:
É parte, é muito pouco, é raso e fundo.

No meio o devaneio, o João, a Joanna.
Acabe, rasgue a roupa, pise forte.
Atrase, lave o cabelo, mude o corte.
Na trave com o goleiro, a bola, a morte.

Segure na mão do mestre, clame, chore.
Reclame seu destino de humilhado,
Quem sabe, quem nunca sabe, quem sabe e cala,
A fala quer de presente um namorado.

Esconda sua miséria no travesseiro,
Mas antes guarde um papel que prove tudo.
Gavetas, imagens santas e dias tortos.
É muco, é muro sujo, é o fim do mundo.

Um, dois, três, aleluia!

Quando tenho pausa no velar da vida, reflito: procurar é sempre a chave pra encontrar aquilo que não se perdeu. Meu olhar procura a casca da ferida no tapete, encontra a lasca de madeira da cruz. Sem sentido como a água que flutua sobre o copo, absurdo como as curvas da luz. Se procuro em algum canto, ouço dentro o terremoto, falham as pernas, os sentidos. Um achado tão fantástico, mentido, sumido entre os frascos coloridos. São passos que o "se" há de dar.
- Onde você perdeu o senso?
- No inferno, quem sabe. Vai buscar?

Do "ir"

4 de fev. de 2010
Quando a palavra foge
Tudo em volta faz sentido
É um momento, um destino, um suspiro.
É talvez a morte perto,
Sem vento, grunhido.
...e vem à boca, quase pula,
E volta cansada,
E cala.

Vera

Granulada e torta,
Forte e meio santa.
Fria. É concreta.
Nasceu pura e sem encanto.
Se soprar o vento ela não muda,
É sólida, plantada, firme.
Nunca vai embora...
É negra, é branca.
Tranqüiliza e apavora.
Alivia:
E mata.
Eu a escolhi.
A verdade, minha e sua.
Triste feito a morte.
Pilar púrpura da existência.
Inabalável: é ferro quente.
Insuportável: machuca.

Calar

2 de fev. de 2010
Plantei meu alicerce no vento...
Fingi que era feliz...
Perdi minha identidade...
- É segredo!

Então vamos.

26 de jan. de 2010
Na fresta de borracha

Pequena como farsa

Espreme-se calada

É pedra.


Caminho da escola

Suor de testar bola

Na trave de concreto

É muro?


A pé é mais bonito

Tender ao infinito

Jogar pra frente, ir...

Escolher o caminho

Parar, olhar um ninho;

"É pardal, deixa aí.”

"Então vamos!”

Colheita.

25 de jan. de 2010
Eu escrevo pra juntar - de viver a gente já separa. O "objeto" do escrito é fragmento, não tem todo e nem é parte; parte é o inteiro separado. O fragmento - coitado, tá solto feito gato preto em telhado branco. Fragmento é o oposto de cimento. 
Juntar. É o que faço. A matéria (!) flutua e condensa na folha. Vira letra atrás de letra, pé de página, anúncio de vida, de morte; tão próxima: trecho, verso, vulto. Estanco o corte e deixo aberto, sangrar sempre fez parte - e o sangue flui da pele branca. E o branco da pele é vida, estranho isso...
O fim é o escuro, a memória que se fecha. Esquecida é negra, o menino não enxerga.
Escuridão é outra coisa: paraíso do Poeta, descanso, tinta preta.
E tento, persigo as coisas (sempre elas), catando pedaços, buscando uma massa consistente, há de ter liga essa vida!

Quero todos

19 de jan. de 2010
Hoje, quero mais do mundo em mim:
Cada pedaço solto no vento
Os que caem ao chão no correr e ficam.
Quero um muito que não seja fácil
Por pouco que pareça ser falta
De tanto que em mim guardo.
E os raios do sol, quero todos
Trancados em arder no peito.
Quero uma bacia de água morna
Pra lavar os pés dos estranhos
E as mãos de todas as mães.
Eu quero um monte de qualquer coisa
Transbordando em sentimentos
E se topo com alguém que queira livre
Sigo.
Hoje, eu quero mais do mundo em mim.

Coice.

E o amor foi-se.
Viver é chumbo!
Por cima de queda, coice.

Naftamor

Amor de naftalina:
Começa no nhenhenhem
Termina na novalgina.

Andar.

11 de jan. de 2010
Bloco de arame com cimento:
Concreto.
Pote de mármore: frio e feliz:
Vasilhame.
Reduz a luz do sol num qualquer círculo:
Bola.
Reflete a ponta torta do nariz:
Iz.

Enfim.

Desabafo:
Pedra, papel e tesoura.
Papel.
Pedra.
Tesoura.
E dói.

Verão

Cármen, ando pela sala
Sem pensar em rima
Digo, dessa estranha oxigenação
Que você insiste em ter com o ver
[ão

Junto, grudado e distante

6 de jan. de 2010
Abraço de rio comprido
Riso de lago quieto
Voando, cai perto
E se afasta na correnteza...
É distância de pedaço pouco
De certeza acabada no vento
É grude eterno-passageiro
É adeus breve de momento.

Seu Lixo

Pedaço imundo e sujo
De lixo do mundo imundo
Vasto mundo, tanto lixo
Tanto lixo, varre o mundo
Pro fundo, bem pro fundo
No convergir do "sem"
Tanto lixo, pouco mundo
Pouco fundo mundo tem