Tragédia

23 de fev. de 2010
Uma carabina, duas balas.
Possibilidades infinitas.

Amor perfeito e risos.

Escondo todo o desprezo que sinto
E traço a certeza do amor perfeito
Sem pontos, vírgulas, defeitos
É raro, mas é possível.

Inspiro e prendo o ar
Deixo encher o peito
Apontam os mamilos:
É o mais perto que chego.

Fecho bem o olho esquerdo
Escondo com a mão o direito
Os dois lados escuros:
É amor com respeito.

Deixo um bilhete curto
No piso sujo do quarto
Espero que ela ache
E me ame.

Um, um.

Reflete a falta do que fazer: poema.
Reduz qualquer luz quadrada.
Janela, quadro, mesa, cabeça...

Prece.

Quem dera ao triste fim de um garoto.
Sofrido, machucado, em canto escuro,
Ah! Ouvir um som de rato do esgoto,
Tocando um tambor bem vagabundo.
É pouco, eu sei, é muito pouco.
É nada, é som de bicho, é som imundo,
Sou louco, eu sei que sofro, eu sei que tudo:
É parte, é muito pouco, é raso e fundo.

No meio o devaneio, o João, a Joanna.
Acabe, rasgue a roupa, pise forte.
Atrase, lave o cabelo, mude o corte.
Na trave com o goleiro, a bola, a morte.

Segure na mão do mestre, clame, chore.
Reclame seu destino de humilhado,
Quem sabe, quem nunca sabe, quem sabe e cala,
A fala quer de presente um namorado.

Esconda sua miséria no travesseiro,
Mas antes guarde um papel que prove tudo.
Gavetas, imagens santas e dias tortos.
É muco, é muro sujo, é o fim do mundo.

Um, dois, três, aleluia!

Quando tenho pausa no velar da vida, reflito: procurar é sempre a chave pra encontrar aquilo que não se perdeu. Meu olhar procura a casca da ferida no tapete, encontra a lasca de madeira da cruz. Sem sentido como a água que flutua sobre o copo, absurdo como as curvas da luz. Se procuro em algum canto, ouço dentro o terremoto, falham as pernas, os sentidos. Um achado tão fantástico, mentido, sumido entre os frascos coloridos. São passos que o "se" há de dar.
- Onde você perdeu o senso?
- No inferno, quem sabe. Vai buscar?

Do "ir"

4 de fev. de 2010
Quando a palavra foge
Tudo em volta faz sentido
É um momento, um destino, um suspiro.
É talvez a morte perto,
Sem vento, grunhido.
...e vem à boca, quase pula,
E volta cansada,
E cala.

Vera

Granulada e torta,
Forte e meio santa.
Fria. É concreta.
Nasceu pura e sem encanto.
Se soprar o vento ela não muda,
É sólida, plantada, firme.
Nunca vai embora...
É negra, é branca.
Tranqüiliza e apavora.
Alivia:
E mata.
Eu a escolhi.
A verdade, minha e sua.
Triste feito a morte.
Pilar púrpura da existência.
Inabalável: é ferro quente.
Insuportável: machuca.

Calar

2 de fev. de 2010
Plantei meu alicerce no vento...
Fingi que era feliz...
Perdi minha identidade...
- É segredo!