Coragem / Covardia

30 de dez. de 2009
Da pedra morta, atirada
No rosto torto da vida
Só sobra a coragem calada
A sombra da face vencida
A única certeza é a coca-cola.
Natal, sempre a mesma coisa de sempre.
Só muda a namorada do primo.

Poeminho meta

Da letra marcada na folha
Da palavra trivial, colada, morta,
Pulsa a luz impenetrável.
E da mente semi-aberta
Saltam as fibras da cor.

A sorte da gota no escuro.

A gota no escuro lamenta sua sorte. Tão próxima do limbo, primo-irmão da morte. Sôfrega sente e camufla sua dor miserável. É afável o destino que a cerca, a faz secar, ser mancha. Sem cor, sem vida.

Sombra

Achasse que fosse o que era.
“Um intelectual de merda?”
Que seja o que era sem achar que era (ou que fosse).
“Um intelectual de merda?”
Independente do que era, que exteriorizasse.
“Exteriorizar a intelectualidade?”
A merda mesmo!

Carona

Andei a pé
Até onde deu
Agora pego carona
Pra apressar o passo
Um dia eu baixo.
Levo um mundo em meu umbigo
É divertido ser egoísta
Carregar em si um “tudo”
Mesmo que seja pouco.
O pouco que em mim levo
É muito pros seus cílios
É fibra morta, eu sei
Mas é fibra minha, fibra solitária.
Um dia eu canso e paro
Chamo isso de morte.

Todo mundo ri

24 de dez. de 2009
Tem Caetano, todo mundo gosta.
Quando cai, todo mundo ri.

E tem Tom Zé, apoteose virtuosa.
Estrondo de espuma transcendente;
Tom Zé que ninguém conhece
Quanto inventismo!, todo mundo ri.

Intolerância

18 de dez. de 2009
Veste esse casaco, menino
Que o vento vai congelar
Anda nevando tijolo
E o calor tá de matar
Suando pra variar, digo:
Terra boa é essa nossa!
Dá pra se colonizar;
Viver de agricultura e corte.
Querendo, aqui tudo dá:
A cabra pro cabrito,
A gamboa pro gambá
Tem até quem come égua
Mas larga isso pra lá.

1920 - Entre Dezembro e a Eternidade.


Era entre dezembro e a eternidade, e no meio de tudo um ponto. E o ponto se movia e sumia no escuro. E era alto e feio o muro. Não tinha cor... Tinha cheiro de vida besta. "E atrás do muro o que tinha?". Tinha tanta coisa que hoje não tem mais... Hoje é a dor e o desespero. O ponto é apenas raro limite entre opostos. Opostos que quase se misturam. Que de longe parecem juntos, de perto a dicotomia vence. "E se chega a escolha?". A escolha é lúdica e breve. É só olhar pra trás e imaginar o ponto se movendo; ele não tem lugar pra si, pra se encontrar. Não deve fazer sentido. E eu não quero que faça. Volto ao que foi e ao que era... Por mais que pareça loucura, sadismo. Quero qualquer bobagem. “E o tempo?”. O tempo é o pai de tudo. O tempo agradece a dádiva. E tudo se acostuma novamente ao comum - é fácil. As crianças continuam chorando e sorrindo por doces; continuam andando em seus crocodilos...

Las nalgas

16 de dez. de 2009
As bundas das mulheres
Que se movem se movem se movem
Carregam na barriga as crianças
E as crianças não se pode ver
E as crianças não se pode ver

Bom dia, Tia

15 de dez. de 2009
O tempo fazia
A sala vazia.

A casa zunia
A mãe fervia
O café.

À velha mania
No sofá jazia
Seu Zé.

O sono trazia
E o Zé dormia
Até.

Cansada grunhia
De lavar na pia
Maria.

E dava azia
Se da porta surgia:
"- Bom dia, Tia".









30/10/2009

Biofrases Return



      Vejo no espelhar do teu olho a magnificiência                  
             múltipla            
dos meus músculos hipertrofiados.

 

No hospital a morte 
 veste branco.



O atleta corre a maratona, 

meu sofá se cansa.



Sobe a saia da menina

e a adrenalina.

 


Bater-cabeça não faz mal 
com plasticidade neuronal.



Se a síncope é por mim, quem será contra?

Um motivo?

14 de dez. de 2009
Ela corria nua pela rua - assim sem sentido. Não pensava nos carros que passavam tão perto. Nem no suor que (es) corria na ponta dos dedos. Não olhava para frente, não fingia que era normal correr pelada pela rua; só corria. Correu até cansou. Pediu e pegou uma carona: voltou pra casa. O motorista do carro não questionou sua nudez. Não reparou nos mamilos excitados... Ela foi deixada na porta de casa.
Morreu 40 anos depois de picada de cobra. A cobra não tinha veneno. Eis o motivo da história.

Chuvinha.

A chuva caiu na calha;
Ninguém ouviu.


Só escutei o barulho da chuva
Quando a calha entupiu.

Vigilância.

Da janela ele olha
Ele olha e não vê
Não vê o que deveria, a meu ver.

E no sofá se esconde,
E de casa não sai,
É medo de ir aonde
O olho da mãe não vai.

Como seria ficar?
Ficar de permanecer...
Sempre se pensa em ir
E voltar.

Ficar na janela eterna,
Esquentar o sofá,
Repetir o que a mãe ensina:
"É prohibido viver!,
É permitido estar.”

O fim é o verbo.

Programar.
Assuntar.
Resolver.
Mudar.
Propor.
Marcar.
E essa vida infinitiva,
Em eterna descontinuidade.
De verbos em "novelar, novelar, novelar."
Meu verbo preferido é viver.

Ausência.

13 de dez. de 2009
Um dia de manhã
E batem as portas.
Eles não ligam...
Se eu fui a igreja
Era brincadeira.

Perdido...
Passos e passos inúteis
Eu me sinto forte
Pra dentro.

E não tem palavra,
Que me faça ficar:
"Volte a ser o que era..."

Vivo entre os portões
Um leva pra casa
O outro leva pra vida.

Sol-dade

Ah!, saudade que assola
Despedaça-me o dia
Fica um tempo e vai embora

Não demora e (re) torna
Cada volta mais doída.

Café

11 de dez. de 2009
De manhã
Pra variá:
Café

De tarde
Pra completá:
Café

De noite
Pra não dormí:
Café

De madru
Pra acordá:
Café

No intervalo
Das re

Layout novo, vida nova, mesmos escritos de sempre

10 de dez. de 2009
Nada como o bom e velho casaco marrom emprestado de um bom e velho amigo.

Janaína na bandeja

9 de dez. de 2009
Cada um, samba a nota
A nota oferecida
Na bandeja com ou sem
Bebida
Na bandeja com ou sem

Não vale a pena sambar
Se o batuque não é bom
É melhor ajoelhar, rezar
Pressa zica passar

Pega a cadeira, Janaína
E passa pra lá
Põe a cadeira no canto
E sem canto
Vá se sentar

Põe a cadeira no canto
E sem encanto
Vá se sentar

Põe essa cadeira no canto
E aos prantos
Vá se sentar

Rapa pra lá
Esse samba não compensa
Até essa zica passar

Deixa o garçom voltar
Vou pedir uma bebida
Pra gente se animar

Vou pedir uma bebida
Com ou sem medida
Na bandeja com ou sem
Na bandeja com ou sem

...

A pergunta que perturba é: como controlar a dormência da consciência que de dentro de nós avança? Como se dormíssemos pro mundo e só existíssemos pra dentro. Um dentro superficial. Longe do fundo e perto da tampa. Existir é fácil, difícil é sentir a existência. Ser consciente dos "eventos" que são percebidos pelos sentidos não é complicado. Mas os sentidos são exatos? Os sentidos são falhos!, como falha é a consciência. Fadados à fabilidade. Fadados ao desespero da tampa longe do fundo. Ao desespero na ponta do abismo; ao desespero que não enlouquece, mas atormenta. É como carregar a dor da perda e nunca descobrir o que foi perdido. É um problema sem solução. E sem solução não há problema. Pela metade: A existência, a consciência, os sentidos, a verdade... Vivemos pela metade, sentimos pela metade, somos a metade - que não é parte nem todo. Existimos no limite. No limite do meio termo.

Beijinhos

8 de dez. de 2009
Beijinhos coloridos,
Voadores, mágicos
Que flutuam,
E correm assustados,
Ao som da gargalhada;
"É a bruxa, é a bruxa"
E os beijinhos se escondem
E não aparecem mais...
O mundo então entristece
E o amor desaparece
"E tale coisa" e "coisa e tale"

Para o campo!

Próximo ao campo desejo estar
Para das bestas selvagens me rodear
E das bestas urbanas me afastar

Bum!

7 de dez. de 2009
Eu quero um encanamento novo
Que canalize a intensidade
Dos meus quase-sentimentos noturnos
Tão fortes e tão fulgazes

Para o sangue sobre o chão

O sonho da menina correndo sem fita no cabelo
Rompido quando abrem à porta e chamam, chamam
E eu atendo o telefone, sem café, sem alegria
Só o gosto de sangue que sobrou do sonho
Eu sou o que sobrou dos meus sonhos
E eles foram tantos, tantos que eu esqueci quase todos
E eu era muito, tanto e transbordava
Era prato cheio de coisa boa
Era uma explosão de areia no centro da cidade
Todo mundo me via e eu queria assim
Mas sempre acordava e só sobravam migalhas
E migalhas são coisas poucas, de menos, são falta...
Nem precisam de prato, cabem mesmo na mão

Uma Porta

Tem um olho
E o olho abre
Tem uma boca
Que se abre toda
Na frente da casa
Tem uma porta
Que está fechada
Nunca foi aberta
Quem a colocou ali
Saiu pelos fundos

Tem doce

2 de dez. de 2009
A janela fecha e abre
A escada sobe e desce
Quem tem cadeira remexe
Quem não tem fica quadrado
Lá na Laje tem gingado
Tem churrasco e tem a Nega
Se escorrega na ladeira
Só sossega aqui em baixo
Na cozinha tem um tacho
No tacho tem doce, doce

A casa da rua da festa

1 de dez. de 2009
De cada vontade
A diversão que ela vale
O grito na festa, é o grito
É a festa, é a fresta do grito
Que ecoa na rua
Na rua da casa da festa
E a fresta ilumina a rua escura
A luz da fresta ilumina
A diversão à vontade
É tarde, se sabe
E cabe ao dia
Acabe a noite
E a festa da casa da rua
Que a fresta ilumina
Perpetua
A raça perpetua

Um, dois, três e sempre.

30 de nov. de 2009
Um verso:
Só...
Dois:
Hum!
Hum...
Três versos:
Infinito...
Sempre...
Tanto...
O infinito basta a si mesmo.

Título? [2]

O que seria o indeciso?
Um retrato torto do narciso?
Uma mistura de grito com sorriso?
Um cisco no mamilo?
Um grilo sem volume?
Um pasto sem estrume?
Acho que não!
Indeciso é quem sofre de indecisão...

Título?

Que preguiça!, dos poemas...
Emas-emas-emas
Que preguiças!, dos poetas...
E das rimas?!
Que chatice!
Sem preguiça da Alice...
E do Alpiste!
E do muro pintado de preto!
E das velhas no ponto de ônibus!,
São só enfermidades...
Ah!, chega dar saudade
Essas velhinhas são tão bonitinhas,
E as tetas então?
OH! Que escuridão...

Dez dias sem Tereza

28 de nov. de 2009
Na mesa ela se senta
E em sua mente sente ser
Tereza novamente,
Tereza é de um jeito
Que ninguém consegue ser
Ela mente de repente, e
Eu nunca irei saber.
E na mesa com Tereza
O dia inteiro se vai...
Aonde vai Tereza
A vida ela atrái
Dez dias sem Tereza
São dez dias demais

Espanhol

Em si és
Algo, algo que sóis
Sem ser sabido

Eventos

27 de nov. de 2009
A memória é objeto
De um evento ocorrido
Pode vir da torneira que pinga
Ou do pingo da consciência que resta
.
A memória é criada, procria e se estabelece
Quando se precisa ela desce...
Do pedestal da saudade.

De onde vem a lembrança
Daquilo que ocorreu
No meu sonho de criança?

Ela existe e machuca;
Desespera e avança...
Eram as agulhas, me lembro
Vindo de todos os lados
Um quarto branco e quadrado
Com linhas em novelar eterno
Ao redor de tudo um lago,
Um amanhacer e o inferno.

Urso

José gosta de mel
Sapateia de tristeza
Quando seu cigarro acaba
Vai-se junto a beleza
Sua mãe quando menina
Deixou a sopa na mesa
E morreu...
José sobreviveu;
E nem você, muito menos eu
Iremos entender
O problema do porque
Do José
Não gostar de sopa

A parte

A parte interessante
É a parte que releva
Responde com silêncio
Apaga.

A parte que morde.
Que vai embora cedo...

A parte que leva os pedaços,
Guardados dentro de si.

Que não fala que ganhou
Um anel de diamantes.

A parte que de mim esconde.
E que o todo sente calada.
A parte interessante,
Vive antes da fala.

Curva

25 de nov. de 2009
O que tem no fim da pista?
Uma ruiva peladona?
Um CD inédito
Da Madonna?


O que tem no fim da pista?
A vida eterna num vidro?
Um susurro, um gemido?,
O Elvis Presley perdido?


No fim da pista tem um cemitério
De estrelas colossais caídas.
Uma mesa sem mistério
Sem cosmos dando a partida...

O fim da pista ela avista
Se na mão tem um cigarro
Rock no som do carro
Os cabelos livres na estrada
Ela mira o infinito
Acelera forte e bate
Capota bonito!
E o vento leva
As chaves de casa...

Leveza

E quando tudo pesa?
É o encotro das coisas?
Que se acumulam sólidas?

O fim de um ciclo?
Assim sem sentido?

Quando o fim se aproxima, pesa?
Pesa a dor doída na alma?
A dor pelo o que foi perdido?
Sem ser sabido o que era?

Seria a areia mórbida dos domingos?
Da morte no verão seco?
Da música sem melodia?
Do barulho da água no fundo do poço?

Pesa a vida lerda que passa?
Pesa a noite que trás o frio?
Pesa a dor do tapa?
O vazio?

Suor

23 de nov. de 2009
Quanto marasmo de vida!
Esse tempo é um sopro da morte
Ardendo entre chamas-fantasmas
E dias de suor eterno
É quando do abismo abrem-se
As portas douradas do inferno

Temporal

Caem do alto
E vertem ao chão
Doem no peito amargo
Gritam na boca em pranto
Soltam seus pós velados
Surtam e vão pro canto
Seguem à margem, usados
E vão atuar com o vento

Estátua

A mão que balança o berço
A mesma que acaricia
A pele, rosa, macia
Do amor não revelado

Este lado, outro lado
E tudo em si resolve-se
E a mão que o berço balança
Toma ao corpo a criança
Que chora, inconsolável

Ver

20 de nov. de 2009
Vi a verdade se pintar de verde
E avermelhar-se de encanto

No início perdi o traquejo
No fim de tudo afoguei-me em canto

Viagem

O dia colore e se demora
É na noite o desencontro
Das letras e do fim dos pontos
Dos martelos e risadas fáceis

O impasse se coloca inteiro
Tem nariz enorme e boceja
 - É o sono que me toma a vida, diz, e se cala...

A janela pinta-se de azul
 E os ditos perdem o encanto
Se discordo faz-se logo um pranto
E se encerra outra bateria
De nomes falhos, trocados
E de bocas tortas, vazias

Refrão

Da cabeça a lama desce
E escorre pelo corpo
É pouco e parece pouco
Sem gosto, sem nenhum gosto

Prece

19 de nov. de 2009
E em tentar fazer meu caminho
Aparece uma Prece sem ninho
Voando sobre o capím verde
É cedo pra ave acordar serelepe
E tarde pra procurar seu filhote
Terá ele morrido na tempestade?
Ou torturado por um raio de choque?
O que será da Prece, ave que sabe voar
E ainda assim cresce e padece
Não consegue descansar...
Sempre que do ninho desce
O nicho abre e vem bicho predar

Cão

Os amigos
Esses queridos
A nos rodiar

Sabem onde estamos
Pra onde vamos
De onde viemos

Só esquecem
De avisar
Existem muito mais coisas entre Montes Claros e Japonvá do que sonha nossa van filosofia.

A Frente

18 de nov. de 2009
De deixar a folha cair sem olhar
É pensar que tudo passou

Agente só repete a felicidade dos outros
Se você é, o que você quer ser
Tudo que existe foge do clichê

E não há fogo que queime
E não há palavra que destrua
E ainda:

Não há dia que oculte
E suje de branco
O que cresce
No fundo imundo
Do coração
Libertino

Ondinha safada

16 de nov. de 2009
A onda no mar
Bate na areia e morre
A onda do mar é a onda
A onda é a onda no mar
Na areia a onda morre
A onda morre na areia
E na areia morre a onda
Morre a onda do mar na areia

Poeminho do amor

Não vivo sem você
Sem você não tem porque
É dormir sem jantar
É tesão sem querer
É exu sem erê

Terezinha

9 de nov. de 2009


Sobre a mesa de Tereza
Três pratos porcelanados
Incrivelmente bem lavados
Um redondo
Um quebrado
Um quadrado

E Tereza onde está?
Sentada a morrer no sofá
Profetizando sua imagem
De mulher da antiguidade

Que perveção ela teria?
Gosto de me pertguntar...
Abusava dos doentes,
Antes de mensurar,
A pressão arterial?
                                                                                                
Ah! Essa rima ilegal!
Tereza-sofá
Tereza-arterial
Tereza-sexo anal

Dentes


E tocam eternos
Os tambores da espera
É a era, a nova era
Que se aproxima calada

E a sombra congela
E a chuva pára
As pessoas se olham
- O fim?

Não há mais dor
O sofrimento indolor?
Gritem! Gritem!
Gritem de felicidade!
E inicia a maratona
 Do desespero acuado
 E as pernas são criadas
     Sucumbe o mundo à forca

E terereu

8 de nov. de 2009
Somente quem trabalha merece comer
O trabalho para o homem a vida oferece
Honrar o trabalho, ter dignidade
Na Bahia ninguém é digno
Ainda assim lá
Em outubro, mi hermana
Encontrarás
Toda sua triste família suburbana
Sentado na beira-mar
Perto da Axé-Moi
E terereu
Seu pai imbecil trabalhador
Ganha o dinheiro com arder
Do toba na cadeira pra viajar
E torrar, esmigalhar e terereu
Na Bahia seu dinheiro honesto
Cielo azulo ticos mios
Va fan culo, ticos mios
E terereu

Orkutismo I

Qualé a diferença meu povo?
Do orkut velho pro orkut novo?
Eu poderia responder...
É quê...
É quê...
O orkut velho "paroud" crescer
"Estagnow"
E você
É!
Você!
Tá quase dando o butão
Pra poder ter
A rodela nova do orkut
No perfil
E perceber
Que continuará a manter
Os mesmos amigos velhos
Ignorantes e burricinha
De sempre

Noturno II

5 de nov. de 2009
Entre a foto imaginada
No sertão cor de sol quente
Sobe na cama o besouro
Primo-irmão da serpente
Incendeia o pensamento
Com seu cheiro de vingança
Vem devolver a matança
Que eu fiz na sua família
Nos maus tempos de criança

Poeminha aleatório 41

Ando cansado
Dessa vida de gota
Eu quero enxurrada,
Desgraça muita,
Cansei de desgraça pouca

Alívio

Alguém fala
E a gente sente
A felicidade
Suprema,
Frouxa
De estar
No "Ausente"

Do "do..."

Do over
Que fica
Da dose
Que vai
Não passa
A dica
E a noite
Cai

Poeminha 14

Qualquer dito
Mente a verdade
Rente ao que se sente
Sente esse cheiro,
De vida derretendo?

Return

Se eu digo e você não diz
O que eu quero que você fale
Muda todo o meu sentimento
E eu volto pro não
Velando seus beijos escuros
Eu sei,
Eu tentei por pouco tempo
E voltei a ser negro
Por mais que você diga
Eu não posso parar
Eu estou de volta
Ao negro amor
Aos dias de dor
E não acaba aí
Eu sou feliz assim
E gosto de ser assim
E as rodas arranhando o asfalto
E eu penso: "Tanto tempo"
Eu voltei!
E olho o vidro embaçado
Pelo quarto fechado de suor
E penso: "Estou de volta ao negro"

Rima nobre II

Ela - a cor anuncia
Flutuando
E o riso descontrolado
Avisando:
"Ela chegou!"

É o que se sabe...
De não vê-la
Só resta
A saudade.

Rima nobre

Tudo bem?
O que é
Que tem?
Meu bem?
Hein?
Não finja...
Você é ninja!
Eu sei...
Provei!
E não
Enjoei
Ei!
Olha lá
Deve ser
Agente vindo
E indo...
De mãos dadas...
Atadas!
Suadas,
De beijar
E ser feliz
O que sobra
Disso
É o que
Ninguém
Diz

Noturno I

4 de nov. de 2009
De quem será
A mão
Esquerda
Que empurra
O berço
Na escuridão?
Não deixo
Aberta
A porta
Fecho
A janela
Bem!
E durmo
Quietinha
Não acordo
Ninguém...

Poeminha 18 (anos)

O sorvete
Doce pela boca
Tem gosto
De barulho
De carroça
Mas é azul
Pra vista
Que gosta
Ice blue!
Desce gelado
Na goela
E sai
No roxo
Do cu

Parquinho

Quadrado de crianças
Brincando de peteca
A nuvem se anuncia, carregada
Ouve-se o borbulhar
Da escovinha da empregada
O dia se umedece
E a chuva acelera e desce
Cai-caindo num toró
Desabando o céu todinho
Sem dó

Da dor que a escrita dá

Na fase do não escrevo
A mão torna-se pesada
O estilo perde o fio
E a folha, a meada
O que antes era leve
Engrossa-se e desafina
E o poema que era fácil
Sublima.

O que antes era claro, turva
O que fora clarão, anuvia
E outra vez pousa a mão sobre a mesa
A falta de formas
Torna-se então
Leveza.








Com Thatyellen*

Passado

Tudo, tudo passa:
A noite desesperada
A morte da filha amada
A casa incendiada,
Pela burrice da empregada
O dia da ira mortal
A multa por ultrapassar
O sinal daquele corte
A falta noturna de amor
O dissabor do beijo
Dado sem desejo

25,5

O que é a felicidade?
É maior que a vida?
Que um hospital
Desabando
Em dia
De
Visita?

Poema 71

Se na manhã o não se levanta
E corre o derredor da avenida
E o sol de luz se anuncia
E dói a vista desacostumada
Tapa-se o olho com a mão
Entre a avenida e a calçada
Passa correndo o caminhão
E interrompe a caminhada

Poeminha 23,5

3 de nov. de 2009
Só seguir...
E não há futuro
Que seja só neve caindo
E carros passando

Azul Sério

Não existe outra palavra
Pra se sentir tão feliz
Às vezes é assim:
Sem medida!

Você é sem medida
Pelos dedos se vão
O azul da sua boca
Escorrendo...

Se você erra meu nome
Eu fico sorrindo
Sorrisos para tudo
São minha cura particular

E seus olhos são azuis
E meus dedos percorrem
Sua boca molhada

É só olhar o mundo
E ver que ele muda
E se aprofunda em ser
O que o livro diz

Eu seguro seus dedos
E você morde a boca
Seu jeans é azul
Como são os seus olhos

Poema 70 (dos sérios)

Sem ter
O que quer
Que seja
A morte
É apenas
Recomeço

Graça

Há alguns
Raros anos
Vividos sem
Temer a graça

Vivo de
Liberdade tardia
Caída em
Eterna desgraça

Há alguns dias
Pergunto:
Terei meu próprio lugar?
Há quem me ajude na fraqueza?

Só a melodia repetida
Auxilia minha vida
E finda
O propósito de ser

03/11/09

2 de nov. de 2009
Tem cabeças que funcionam
Movidas à grande esforço

Tem palavras que se entregam
Com dureza e desgosto

Tem aqueles que se negam
É pra causar dor, por gosto...

E tem ela, a ressalva,
O encontro
A sutileza e o grito
O suspiro e o tiro
É o disparo
E o alvo

É na noite
A luminescência
E em si
Essência

Tragédia

Os sons são escuros
Como os beijos não roubados

Os dias são claros
E tristes como antigamente

E o sol escancarado, sorri
Para todo ser vivo

Ela foge, destemida
Pela calçada de pedras

E tropeça desastrada
Embaraça-se nas pernas

E cai para as rosas
Vermelhas de vida

Azul Clarinho e Lilás

É passarinho
Dançando
Tontinho
No fio

É uma flauta
Na boca
Vermelha
Da moça

É uma gota
De fruta
Doce
Que pinga

É dor calada
Resumo
Ressalva

Bater de vento
No rosto:
Que frio!

É o pedaço
Do canto
E tem
Mais recheio
Que o meio

Sapatos brancos

Cambaleia o sino
Tonto de tanto tocar
E anuncia na rua
A grande procissão

Ele caminha à frente
Que nariz! Que juventude!
O seu queixo é quadrado
Ele carrega no peito
A arma e o segredo da vida

E sapateia derrepente
E sorri derrepente
E dança, e dança...
Olha para a moça
E curva-se
Estende a mão
E casam-se

E cambaleia o sino
Ávido por mais negócios

Açucarada

E flutua
Entre os dedos
Das formigas

É uma gota,
Um suspiro

Aperta.
E solta...

Caminha escondida
No cantinho
Da parede
Na pontinha
Dos pés

Poeminha para lápide de deusinia

1 de nov. de 2009
Um dia
Um belo Dia
No meio
Da mata verde
A deusinha
Desapareceu

Sumiu,
Assim de repente
E no mato
Se perdeu

Chovia o céu
Nesse dia

O tal do fim
Da deusinha
Que tadinha
Molhadinha
E sozinha...
A braquiária engoliu!

Os bombeiros
Procuraram
Os moradores
Procuraram
Os familiares
Espalharam
Cartazes
Pelo mato

Um pardal
Faminto
Procurava
O que comer
E avistou
A deusinha
Encolhida
Coitadinha

Papou deusinha
Todinha
E só sobrou
A pontinha
Da calcinha
Pra contar
A historinha

PUFF!

A mesma luta
E eu apanho
Apanho sempre
Se no engano
Do banho
De palavras
Só as larvas
Me importam
Sou torto
E feio
Não ligo
Releio
O livro
Da estante
E num claro
Instante
Eu vejo
Que o mundo
Inteiro
Espera
A palavra
Que existe
E flutua
Calmamente
Ou feito
Um furacão
E eis que
No lampejo
De pura
E límpida
E nua
Ação
Alguém
Percebe
E pega
Estouro!
Um poema

Poeminha 25

Ela diz
Que eu me acho
Eu me acho
No que ela diz

Blue song

Entenda-me agora
Ás vezes eu sou
Rude
E você se afasta
De mim

Mais o som
Continua bom

Por favor,
Só acompanhe

Uma vez
Aquela vez
Eu fui rude

Mas o som
Ainda flui

Por favor,
Só acompanhe

Mesmo que você escute
Alguém gritando
Ao fundo
Palavras em azul

Uma coisa, amor:
Foi uma vez
Aquela vez
Acabou!

As notas ainda
São as mesmas
E o som,
Ah! O som...

60

Uma valsa de minuto
Um pulinho só
Ou dois

Pode ser grave
E alegre
E passar...

Há de ser rápida
A letra
Para acompanhar

Há de chegar
O fim
Para concordar

Poeminha 31

31 de out. de 2009
Esgueirava-se nua pela sala
À sombra do armário estava
A face cravejada de marcas
O frio deixava-se ficar
A chuva caia dolorosa
Alguém assoviou na rua
E fez-se a cena da morte
A garota agora visível
Não tinha 12 anos feitos
E falou, falou como padre
Como padre há muito morto
Falou em língua perdida
E secamente virou-se, nua
Sumiu no escuro da casa
Engolida pelo escuro da casa

Carne amarga

Arranha a alma
E vamos seguindo
Mesmo sem andar
A gente acaba indo

Vamos, meu doce
Mude o seu sorriso
E veja à frente
O caminhar vencedor

Se você não sente
Que pena
Tudo entre nós se apagou

...

Para poder sem sim
Para poder tem sim
Para poder ter sim
Para poder ser sim
Para poder ler sim
Para poder ver sim
Para poder vem sim
Para poder nem sim
Para poder bem sim

Bom dia, Tia

30 de out. de 2009
O tempo fazia
A sala vazia

A casa zunia
A mãe fervia
O café

À velha mania
No sofá jazia
Seu Zé

O sono trazia
E o Zé dormia
Até

Cansada grunhia
De lavar na pia
Maria

E dava azia
Se da porta surgia:
"- Bom dia, Tia"

Poeminha 43 do segredo

29 de out. de 2009
Poeminha dedicado
A vidinha calada
Que se esconde,
Se embriaga de si mesma
E se apóia tristinha
Na mesa do quarto
E vai-se indo, tadinha
Tão, tão, tão besta

Poeminha 21 aleatório

Chove as gotinhas no cimento
A água se faz e forma a poça
Chuva só é bom se tem galocha
Que não deixa molhar o pezinho

A cidade leve nua turva a rua
Se o óleo negro escapa do motor
Na água o sol bate e multicor!
Arcos-celestes tingem a calçada

Chove animação na festa aberta
Molha a teta dela e a sua testa
E vão-se os carrinhos de algodão
Descansar nas varandas cobertas

Quem leva a vida livre do telhado
Sai à procura de teto e de afeto
A chuva no início afeta o vício
E dói a dor latente do reumatismo

E não se ouve mais as criancinhas
Os cachorros dormem encolhidos
Os ladrões respeitam o muco do muro
Fecham-se as janelas da “sala de tv”
Ninguém recebe visita em dia de chuva

Fim

28 de out. de 2009
Amanhã as coisas não
Serão mais como são
E quem teve a mão
Suja de sangue em vão
Levará à face e então
Tornará a ver do chão
Surgir a mortal ilusão
E do homem o cão
Surgirá

Batalha

Corre o veterano de guerra
A criança colhe pão nas ruas
A feiticeira venda o rapaz virgem
A senhora de idade falece na cama
E a vitória se anuncia no espaço
Os corpos já se uniram à terra
E o Verme é o fim do ciclo
O Verme agradece a dádiva

Para Tia Pati

27 de out. de 2009
Eu vi a ave
A ave me viu
Eu fiquei aqui
E ela fugiu

Poeminho 52 para Joanna

Essa coisa vicia
Mais que cocaína
E a piada da paralisia
Vicia do jeito mais nefasto
Daquele que não tem como fugir
Se entro em um vejo todos
Que o babaca resolveu seguir
Com o meu mesmo não me importo
Mas vício mesmo é isso aí
Não ligar pra gente e seguir
De buraco em buraco
Absorvendo tudo o que há
E depois de alguns anos
Se tudo correr bem
Cancelo a internet
E vou me reabilitar

Poeminho 47

Ainda resta
Da vida uma réstia
Mofada no canto

Ainda escorre
Da parede o óleo
Que você pintou

Ainda existe
De você o pedaço
Que minha boca guardou

Foram-se os dias
Que guardávamos tudo
Lembrávamos de tudo
Vivíamos o mundo
E o tempo...
Ah! O tempo!
Devolva-me
Tudo que de mim
Roubou

Escuta!

26 de out. de 2009
Que barulho faz
Uma gota que não toca o chão?

Que barulho faz
O movimentar dos lábios no escuro?

Que barulho faz
O fingir que o mundo não é absurdo?

Que barulho faz
Seu sorriso besta de domingo?

Que barulho faz
O acordar no sereno da calçada?

Que barulho faz
Sua testa molhada de suor?

Faz barulho o silêncio?
Se é silêncio por não ser ouvido?
É silêncio o silêncio dos surdos?
Se não ouvem a palavra no muro?
Escuta!
Cala-te no negro escuro,
E ouça,
Esse silêncio ensurdecedor!

Do alto

25 de out. de 2009
Parado eu vejo o oceano
Daqui de cima tão humano
Com seus barcos frios
Flutuando atrás do muro
Somente os barcos flutuando
Pendendo na eternidade
Bem perto, bem longe
E um minuto sem controle
Só destroços e corpos
E alguém procura o filho
"- Olha! Não tem ninguém vivo!"
O muro despedaçou-se...
O que você vê no horizonte?
As cores se distorcendo?
Olha direito, sobre o muro
O muro está na sua frente
Na sua mente
Não adianta tentar...
Abra seus ouvidos
Ouça-os gritando
Bem perto, bem longe

Dois lados

Comigo é meu umbigo
Contigo um bom partido
Com ela uma cancela
Com ele o barco afunda
E cai a casa
E fica o sapato
A cada suspiro mais gasto
Um pedaço
De algo que se coma
E se queira
Um que flutue
Entre algum lugar ermo
E o limite
Inalcançável
Do meio termo

Terno, tiro e caviar

23 de out. de 2009
Da morte para capa
Por arma de porcelana e prata
Levemente manuseada
Por madame, cigarro e dedos
Vestido vermelho, salto
Cigarros negros, finos
Piteira trinta centímetros

Deu-me três cliques fatais
No peito, no peito, no peito
Reflexos manuais perfeitos
E orgasmos por trabalho bem feito

Que eu vestia humildemente: terno
Próximo à lady parecia hippie
Levantou seu vestido chique
Deixando à mostra o sapato
Personalizado Manolo Blahnik

E seguiu-estralou pela calçada
Com tapete preto, forrada
Para a dama flutuar efusiva
Entrou na limusine madrepérola

Em movimento, com o champanha aberto
Lá dentro esperava o motorista
Francês, poliglota e dislexo
Nascido em terroir


E eu lá fiquei no cair-carão
Esperando o flash disparar
A foto batida antes da polícia
Chegar e o morto imortalizar

Horta Mágica

21 de out. de 2009
Enterrado na horta
Está o corpo do morto
Há pouco conferi
Se brotou algum broto
Desgosto ou erva daninha
Ou qualquer tipo qualquer
De plantinha

Nada nasceu no lugar
Creio na superstição
De que nada nasce
Quando é pedra o coração

Resta esperar calado
O corpo morto se desintegrar
Ficar somente o espirro
E quando o "homem bom" passar
Vou oferecer um ramo
De qualquer planta qualquer
Só pra me deleitar
Que a terra pisada
É o eterno lar
De uma alma penada
Falar dos laços imaginários
Que rodeiam os amores
Os afetos, os afagos
E seus doces dissabores

Adiantar a palavra vazia
Que terminará com as mãos
Não mais unidas à anéis
Boca, rim ou coração

Sangrar até o momento
Que se esvairá
O sangue que se pode perder
Sem a morte reclamar

Esperar eternamente
O dia em que voltará
A arder em sentimentos
A revolta borbulhante
Que o amor novamente
Trará
20 de out. de 2009
Azul, verde, amarelo
Colar de dança havaiana
Um bezerro monta o outro
Vaca solta na pastagem
Se fosse macho seria
Indiscutível viadagem

Tantas vezes discutido
Suspirado com imagens
Sons de ronco, sacanagem
Flores, arranjos, véus
Mais ninguém canta o amor
Sentido na base do créu

Quanto ao significado
Do olhar de um amigo
Pode ser "muy" comum
Ou um tanto pervertido
Se o amigo é travesti
Com um lustre no umbigo

Ai!

Ai!
Grito dormente
De som suado de amor
Ouve-se em todo canto
E olha-se para ver
O motivo interjetivo
Que o fez aparecer
Se foi a unha encravada
Pisada sem querer
Ou o gemido da empregada
Buzinada sem saber
Ainda existe a remota
Mais viva possibilidade
De ter sido Mariana
Num suspiro de saudade

Negro, negro, negro

Foi um sim como qualquer outro
E o momento que define tudo
Ao redor rodava o vira mundo
E na cabana dormiam as crianças órfãs
As árvores sacudiam-se
O vento brincava com as telhas leves
Dobravam no ar a água e a luz dos raios
E o céu era negro, negro, negro
Se a pureza habitasse
O fundo do coraçãozinho
Eu diria que as luvas
Os anéis e candelabros
São melhores que os dias
Em que não abro a mão

O toque sem liberdade
O beijo desnecessário
A dor tingida de branco
E o pranto, e o pranto
E o grito, e o grito

Um acordar sem sentido
Um zumbido sem ouvido
Um tema distorcido
Um gemido no escuro
Sem saber, sem saber
O que há atrás do muro?

Poeminha 22 para deusinia

São as menininhas
Que vem me importunar
Quando mandam depoimento
Ou inventam convidar
A deusinha pra sair
A deusinha pra "rodar"
E não sabem tão burrinhas
Que pra casar com a deusinha
Eu tenho que :
Autorizar
Carimbar
Assinar
E se ao acaso
O caso não me agradar
Simplesmente não há
Simplesmente não há
19 de out. de 2009
Triste de tanto comer
Cheio de tanto escutar
Cansado de tanto ver
Molhado de tanto suar

E tudo se repetindo
O primo aleijado chora
Não pode brincar de correr
O primo encapetado berra
Ri alto até quase morrer

A prima que tinha espinha
Agora tem namorado
Taxista renomado
Já transportou deputado

A Tia magra de saia
Faz o papel da árvore colorida
E só para de falar
Pra mastigar a comida

Sentada no canto da sala
A vizinha deprimida
Perdeu o marido e os filhos
Alguém cochicha: "foi batida, foi batida"
Todo mundo ouve calado
E o aleijado se mija

E servem a mesa vermelha
Com cadáveres diversos
O marido novo de alguém
Vegetariano e advogado
Faz um discurso de protesto

E servem o segundo prato
E servem o terceiro prato
Peru, pato, leitão
Frango assado serve no quarto ao lado
A cunhada nova pro Ricardão

E entra na porta armado
Vestido de Papai Noel
O irmão todo exaltado
Pra encerrar o natal
Dá três tiros, afobado
No papagaio
Na parede
E no céu

E termina o natal
Sem sobremesa e sem graça
Como sempre ano que vem
Vai ser a mesma desgraça

Um alguém chamado Zé

18 de out. de 2009
De Vênus veio o Zé
Sem saber onde chegara
Perguntou: - Qualé?
Sem saber de onde ele vinha
Respondi : - Qual foi?
E brigamos

Zé era baixo como
Bem feio como
De cabelo duro como
Gordo (gordo) como
A maioria de nós é

Zé tinha tatuagem
Zé tinha dentes brancos
Zé tinha sapatos
Maiores que o pé

Tinha o olhar longe
Tinha vontade de ser monge
De ganhar na loteria
Isso o Zé sempre pedia

O Zé era gente fina
Conversava a noite toda
Bebia sempre que podia
E sempre que não podia

O Zé era
Um Zé ninguém

Nunca tinha trabalhado
Estudado ele já tinha
Nunca tinha namorado
Transado ele já tinha
Nunca tinha tido amigo
Essa parte foi comigo

Mas o Zé
Pensava como ninguém
Argumentava como ninguém
E ria de qualquer bobagem

Um dia, um belo dia
Aquele dia qualquer
Quando ninguém imagina
Morre de overdose o Zé

Zé-presunto desceu o rio
Desaguou lá no bem longe
E sumiu não sei pra onde
Vestia blusa de frio
Calça laranja e boné

Nesse dia ele partiu
E não desaguou no mar
Zé se prendeu num galho
E preso lá deve estar
16 de out. de 2009
Da libido
Tenho medo
Nâo se pode
Vacilar
Ou contar
Algum segredo

Da saudade
Que suave
Invade
O rim
Eu não deixo
De gostar

Da linguagem
Obscena
Que condena
Que condena
Faz bem
Um bem bom

Da posição
Do lustre
Só lembranças
Tantas, tantas
Ah!, bom tempo
De criança
12 de out. de 2009
Quando quero foto de criança
Escrevo criança e acho

Se quero uma nebulosa escura
Digito e sempre encontro

Flores floridas em março
Cadeiras, bolos e chapéus

Inocentemente procuro
E vem a mim saltitantes


Me descontrolo se quero
Encontrar uma mulher composta
Mesmo que esteja de costas

Encontrar uma freira amiga
Mesmo que pouco vestida

E se tento uma ninfa virgem?
Impossível, impossível...

Alguém sopra ao meu ouvido
“Se for isso que quer achar,
Escreve Boceta”

Luamádentrô

Uma lua luou num luar radiante
Esfregou na minha boca teu corpo excitante
Expurgou seu gozar num claríssimo instante
E se foi, foiseindo pro inferno de Dante
E me deixou deixado no prefácio eterno
Num início doloroso, dolorante
Vazou a lua no mar, luamadentrô
Rapariga!
Neguinha que padece de usura
Não esquece nenhuma amargura
Quebra a esquina do pecado nua
E anda de tamancos na calçada
Não sente dor, tristeza, espanto
Mais se pagam bem se esconde em algum canto



Sobe o telhado paladinha
Vai espiar o filho da vizinha
Da comida de manhã pro gato
Toca o seio e troca o sapato
Veste um terninho, assim, bem passado
E rebola-desce a ladeira do mercado
Sem pensar em nada, espevitada
Guardando mágoa da vida passada



Tempo bom de empregada
Lavar, passar, cozinhar o patrão
Limpar tudo até ter promoção
Perder o emprego e a comunhão
Cuspir a hóstia sagrada no chão
"Mulher cabrita aqui entra não"



Ganhou meio dia pedaço de pão
Esbravejou, não quis esmola
Pau-de-arara,leva a vida na sacola
Rodoviária, trepa, ganha, come
A fome dói quando se sente fome



Resmungar e viver sua vida
Sonhos distantes na manhã sofrida
Lavar latrina pra ganhar trocado
Bunda pra cima e tá tudo arrumado
Pegar o mote debaixo da pança
Lembrar do tempo que já foi criança



Olhar no olho da ingenuidade
E tudo aquilo agora é só saudade
Amarga o peito e chora com vontade
Escorre o rosto a lágrima salgada
Triste destino da mulata
Boa de lida, de cama e de estrada

Definição minimalista sobre o mundo II

O mundo é um cabaré, às vezes, paga-se pra gozar, às vezes, goza-se sem pagar.

Desmembrando o Frango Assado

10 de out. de 2009
Quando a menina inventou
Essa suave posição
Não ousaria pensar
Em quanta perversão
Lançou

O garoto tímido
Que no quarto se escondia
Viu seu tio advogado
Escalando sua tia
Gozou

O operário cansado
Com a marmita na mão
Viu da secretária os tamancos
Na janela do patrão
Sentou

A garota que acompanha
Sempre farta da sua lida
Obedece ao comando
De levar perna na orelha
Cansou

A senhora da estrada
Que não tinha opção
Encontrou jovem empresário
E na vida salvação
Pôs suas pernas pro alto
E na alta do tesão
Casou

Fita Rosa No Cabelo

Sentado na grama da rua
Olhando a menina brincar
Ele a vê toda nua
Não deixa a garota pular

Ela parada na praça
Balançando suas tranças
E ele só pensa em traçar
A jorbela da criança

A menina escorrega
Ele sente calor doído
A grama que roça a coxa
É a menina sem vestido

Eu vejo de longe seu rosto
E sinto profundo desgosto
Em não ter imaginação

A menina pulando de tranças
É só
A menina pulando de tranças
Um dia na infância perdida
Vi num canto da rua adormecida
Uma menina-vampira dormindo
Fiquei com medo e fui embora
E nunca mais a vi
Ela deve estar em outro lugar
E eu continuo aqui
Ela deve dormir em outra rua
E eu durmo na mesma cama
Sempre, sempre, sempre
Eu queria,
Antes de morrer
Andar na rua de novo
Só pra ela me morder
Hoje eu tô lerdo
Não sirvo nem pra pensar
Só pra assistir a tv
E ver a Kelly Key cantar
A voz dela entra no ouvido daqui
E sai no ouvido de lá
6 de out. de 2009
O mundo, na verdade, é um cabaré a céu aberto, porque se fosse a céu fechado agente ia ter que pagar pra viver.
O sol queima queima queima
No fogão a sopa
A sopa ferve ferve ferve
O velho chinga chinga chinga
 "A sopa tá pronta"
Grita grita grita
E todo mundo come

Poeminha para deusinia

O sol calora
A testa sua
O suor escorre
Na cara do besta
Salga a boca
E pinga na teta
25 de set. de 2009
Eu pensei na maçã
Mais isso foi ontem
Hoje quero vinho quente no café
É só o que eu quero
Nada de ver o sol nascer



Eu penso que chorar faz mal
Como música idiota
É não cuidar da própria vida
E da de qualquer um que se queira



Quero meu vinho quente no café da manhã
Mesmo que me doa o estômago
E dê dor de cabeça



Me ofereça algo que não seja me tocar
Por favor, não me toque
Tente assim
É mais fácil...



Eu quero paz
Felicidade explícita e dolorosa
Por um instante
A humanidade agradece
24 de set. de 2009
Velhice é quando se
Aquilo que sempre quis ter
Sem esquecer que pra tal
É preciso quase-morrer



É preciso chorar escondido
É preciso um sofá confortável
E também uma boa campanha
De uma vida de sorrisos amargos
E de luz no fim da estrada



É preciso uma fila no banco
É preciso um penico no quarto
E também um colchão duro
De forma que se durma bem
E se se esquecer do café, repetir



É preciso a tal paciência
É preciso a tal solidão
E também enterrar os amigos
De tudo restar o bom-senso
E se o tempo arruinar, remédio



É preciso um pijama de seda
É preciso uma estante de livros
E se o sim perder o sentido, de juízo
De uma padaria por perto
E se o sol esquentar um bom banho



É preciso cuidado ao andar
É preciso um barbeiro confiável
E para vontade de amar, remédio
De almoço uma boa salada
E de água a todo instante



É preciso cuidar do tempero
É preciso olhar para frente
E quando o viver cansar, paciência
De sossego precisa-se sempre
E de música nem tanto



É preciso tomar chá sem doce
É preciso escovar os dentes
E quando o apetite faltar, remédio
De uma ida ao teatro é preciso
E de pagar meia-entrada nem tanto



É preciso ainda verdade
É preciso escolher bem as flores
E muito do mundo guardar
De um sono sofrido ou um pranto
E se a luz se apagar, paciência



É preciso o dia da morte
É preciso sair no jornal
E de vazias palavras breves
De viver nada se leva
E se deixa a despesa da festa
Mais quer, quer, quer
Encontrar a si
Mesmo se for só
E que fique só

Só pra ser feliz
Feliz se for só
Unicamente seu

Sem pesar de ser
Aquilo que o outro quer
Sem mesmo saber
De si

É deixar fluir
O som
Sentir,
A poeira leve
Da solidão

E transformar
Aquele sonho bom
Em tom
Em mar
Mar azul

Sem pedir, sair
Aonde ir, ficar
E viver de sim
Deixar...
22 de set. de 2009
Várias cores,
Tamanhos, odores, idades...
Aquelas que deixam saudades
Aquelas que causam espanto

Pra todo lugar que se olha
Em todo canto
Seguindo mato adentro
Dentro daquele convento

Tem em academia, supermercado, padaria
Em buteco, borracharia, churrascaria
Na previsão do tempo
Quando se anda de avião...
Hoje até em caminhão

Umas rodam feito corrimão
Tem "neguim" que passa a mão
Tem "neguim" que passa não

Uns encontram muito cedo
E não dão sussego
Já outros morrem de medo
Resolvem guardar segredo

Acompanham a história
Estão nos anais da memória

Causando dor e sofrimento
Alegria e esperança

Algumas se escondem tristes
Detrás da aliança
Embaixo da pança...

Já teve a que causou morte,
Guerra, desolação
Mas já teve a intocada
Que guiou revolução

Umas agente deseja,
Busca tamanho é o dia
Outras agente esquece
E deixa molhar na pia

Tem de graça na boate
Pra comprar lá na esquina

Antes era privilégio
De mulher-moça-menina

Homem mesmo não tinha!
Mais nesse mundo do cão
Inventaram a medicina
Que inventou o travecão


(Feita por encomenda como camisa da Ghambiarra)
Um belo dia Lineu
Acordou com a inchada torta e resolveu
Criar para si divisão

Foi invadir o quadrado
De quem estava largado
Comendo seu pão mofado

A coisa já estava armada
Uma tal revolução
-Que quase sempre dá em nada

Inventou hierarquia
Com Reino, Filo e Espécie
Que enquadrasse quem pudesse!

Mas o Verme de longe ouvia
Tão grande latrumia
Do pai da Taxonomia

Agora ele tinha nome,
Classe e regalia

De bicho da goiaba
Tornou-se invertebrado
E ganhou até família!

O Verme marcou reunião
Fez gráfico e planilha
Queria avisar o mundo

Tinha grupo seleto
Ia receber visita
De ilustre parasita

Mais de Rei nada não tinha
A ciência desalmada
Descosturou sua bainha

Picou sua grandeza em filos
E o Verme tão contente
Voltou a ser indigente

Saiu dos confins da terra
Armou seu povo pra briga
E preparou sua vingança:

"Se não posso ter grupo
Resta uma só esperança
Mudar do buraco escuro!"

E para cambiar a vida
Fez cirurgia conhecida
Passou a se chamar Lombriga

Mas por falta de opção
De lugar mais luxuoso
Acabou em buraco novo

Uma velha conhecida
Sempre bem abastecida
E por culpa de Lineu
O bom verme se perdeu
E foi morar na barriga

Biofrases

21 de set. de 2009
O mais forte é apenas aquele com maior número de fibras de actina e miosina.

O mais fraco é apenas aquele que não come proteína.

Vejo no espelhar do teu olho a magnificiência múltipla dos meus músculos hipertrofiados.

No hospital a morte veste branco.

Na porta do quarto 232: "Absolutamente ele morreu".

O atleta corre a maratona, meu sofá se cansa.

Torna o coração cheio - o nervo vago.

Sobe a saia da menina e a adrenalina.

Bater-cabeça não faz mal com plasticidade neuronal.

Anabolizante faz bem a saúde de quem vende ataúde.

Se a síncope é por mim, quem será contra?

Quantum

“Pudera ser um animal em pleno século XXI” - não diz muita coisa, mas em que século animal disse algo lógico? Lógico... No que permeia as definições filosóficas, ter lógica é no fim das contas dar sentido ao processo de forma que o objetivo seja alcançado com coerência.
Ou seria esse tipo de conversa íntima com meu “eu” animal só um guia nas minhas compilações existenciais ao recesso ideológico de uma frase sem fim?
Escrever assim sem rumo-ritmo-rima sempre foi uma pretensão do verme. Encontrei-o quando não quis; não se procura vermes por aí.