19 de out. de 2009
Triste de tanto comer
Cheio de tanto escutar
Cansado de tanto ver
Molhado de tanto suar

E tudo se repetindo
O primo aleijado chora
Não pode brincar de correr
O primo encapetado berra
Ri alto até quase morrer

A prima que tinha espinha
Agora tem namorado
Taxista renomado
Já transportou deputado

A Tia magra de saia
Faz o papel da árvore colorida
E só para de falar
Pra mastigar a comida

Sentada no canto da sala
A vizinha deprimida
Perdeu o marido e os filhos
Alguém cochicha: "foi batida, foi batida"
Todo mundo ouve calado
E o aleijado se mija

E servem a mesa vermelha
Com cadáveres diversos
O marido novo de alguém
Vegetariano e advogado
Faz um discurso de protesto

E servem o segundo prato
E servem o terceiro prato
Peru, pato, leitão
Frango assado serve no quarto ao lado
A cunhada nova pro Ricardão

E entra na porta armado
Vestido de Papai Noel
O irmão todo exaltado
Pra encerrar o natal
Dá três tiros, afobado
No papagaio
Na parede
E no céu

E termina o natal
Sem sobremesa e sem graça
Como sempre ano que vem
Vai ser a mesma desgraça

3 comentários:

Joanna disse...

Trágico.
"Drama, drama, drama..."
Prefiro pensar que tem mais sexo que morte na sua cabeça. Hahha!


Bjo!

Dream_On disse...

'Frango assado serve no quarto ao lado
A cunhada nova pro Ricardão'

Tâo bem descrito que dá pra enxergar a cena exatamente como acontece!
Tinha que ser você mesmo.

um beijinio, deusínio.

O Verme Verde disse...

Eu concordo com a Joanna. Mais do que morte tem...